ENTREVISTA - THE ROCKER MEMORY

Marcio Baraldi é um dos mais reconhecidos cartunistas mundiais, com um talento enorme mostra através dos seus quadradinhos o mundo do rock e heavy metal de forma humorista, que nos faz dar umas enormes gargalhadas.
O Metal Morfose teve o prazer e oportunidade de colocar umas questões a Baraldi, no qual ele expõe o seu percurso e projectos futuros. Pela primeira vez em Portugal as palavras de Baraldi:


Metal Morfose: Saudações, Marcio Baraldi, bem-vindo ao site e rádio Metal Morfose, para inaugurares a secção "The Rocker Memory".

Baraldi: OBAAAAAA!!!!!! Sejam bem vindos vocês também à Baraldolândia, o mundo maravilhoso do Baraldão (risos)!!

M M: É verdade que o teu início como desenhador e futuro cartunista ainda em criança foi a rabiscar toalhas, guardanapos, paredes e tudo o que vias pela frente (risos)?

Baraldi: Sim, todo artista que se preza tem um começo modesto (risos)?! Não dá para começar logo no Museu do Louvre (risos)! Eu era daquelas crianças agitadas, que não parava quieto um minuto. Já naquela altura era um rabiscador compulsivo e rabiscava tudo o que estivesse ao meu alcance. Tinha muita criatividade e precisava de gastar toda aquela hiperactividade que tinha. Para me fazerem ficar quieto, a minha mãe dava-me muito papel e canetas para eu desenhar. Funcionava e eu deixava-a sossegada durante horas (risos)!

M M: Os gibis acrescentaram elementos para definir o futuro do teu trabalho seja como desenhador ou cartunista?

Baraldi: Totalmente! Eu descobri os gibis ainda quando nem sabia ler, e por causa deles acelarei a minha alfabetização. Chateava a minha mãe para ela me ensinar a ler, para eu conseguir ler os gibis. Ela coitada, teve paciência e deu-me uma base de leitura, que rapidamente eu desenvolvi graças aos gibis. Quando fui para a escola, com seis anos já lia e escrevia muito bem e era o melhor aluno da classe. Daqueles que a professora chamava para frente, para ler em voz alta para todo mundo. Como é lógico aproveitava e já fazia uns desenhos na lousa também (risos)!
Os primeiros gibis que li foram a Turma da Mónica, do Maurício de Souza, e a Turma do Pererê, do Ziraldo, estes dois e o Monteiro Lobato, do Sítio do Pica-Pau Amarelo, são os meus três mestres até hoje!

M M: Conta o teu início até os dias de hoje como "Rockartunista"?

Baraldi: Comecei a profissão com 16 anos, no Sindicato dos Químicos do ABC, que ficava do lado da minha casa. Comecei a ilustrar um jornal de lá, o "Sindiquim". Aliás eu fui contratado lá até hoje. Actualmente eu tenho uns cinquenta empregos, mas naquela época só tinha aquele (risos)! O ABC era a região mais povoada do Brasil, um subúrbio operário, foi lá que nasceu a CUT e o PT, e onde o Luiz Inácio da Silva virou o Lula (Presidente do Brasil). Eu conheço o Lula desde criança, apanhei todas aquelas greves históricas do começo dos anos 80. Na imprensa sindical fiz e faço milhares de charges políticas, sou o chargista com a maior produção de charges na imprensa sindical e da esquerda brasileira. Sempre fui de esquerda, sempre tive e sempre terei um posicionamento humanista, e não um capitalista selvagem, no meu trabalho!
Paralelamente a política, fui sempre roqueiro e gostava de desenhar bandas de rock, principalmente os Queen e os Kiss, que era uma óptima banda para desenhar (risos)! Fazia muitos para fanzines e desenhei para tablóides roqueiros independentes, até que em 1996 criei o personagem Roko-Loko para a Revista Rock Brigade e daí para frente não parei mais. O Roko já fez mais de onze anos de publicação ininterrupta, já lancei três livros com ele, t’shirts, um boneco e o vídeo-jogo "Roko-Loko no castelo do Ratozinger", o primeiro jogo para adolescentes no Brasil, tanto para PC como para telemóveis! Depois comecei a colaborar com outras revistas brasileiras de rock, como a Roadie Crew, Metalhead, Rock Hard Valhalla, Comando Rock, Dynamite e Rock Underground. Ou seja, faço sete revistas de rock brasileiras! Já fiz milhares de cartoons do género, sou o cartunista com a maior produção sobre o assunto no mundo. Até estou a pensar em entrar para o livro Guiness dos Recordes (gargalhadas)!

M M: Os teus quadradinhos são um sucesso no Brasil, já houve publicações na revista Blast de Portugal, gostavas de ver as tuas publicações definitivamente em Portugal?

Baraldi: Sim gostava. O Luís Balcinha, da Metal Heart, já me pediu para enviar cartoons para ele. Eu vou enviar já, já. Estou atrasado porque ando que nem um doido a preparar o meu novo livro, "Humortífero", e o meu novo jogo/DVD. É um dual-disc: de um lado a nova versão do jogo do Roko-Loko e do outro um DVD documentário com o making of do jogo e participações de músicos dos Angra, Sepultura, Korzus e Exxótica. É o primeiro dual-disc que um cartunista lança no Brasil e provavelmente na América Latina, um produto pioneiro, que ficou lindíssimo. Vou lançá-lo agora no segundo semestre numa grande festa. Depois eu mando para o Metal Morfose para fazermos promoções com o público português, ok? Tenho a certeza que a roqueirada de Portugal vai adorar! Aliás, eu podia
colocar os meus cartoons aqui no site do Metal Morfose também?! Olha a minha cara de pau! A me fazer de convidando (risos)!

M M: Ganhas-te uma série de prémios como o "Humor Popular 1994" em Volta Redonda (RJ), Vladimir Herzog de direitos humanos em 2002 e 2004, sete Prémios Ângelo Agostini, como melhor cartunista e melhor lançamento com os livros do Roko-Loko e Tattoo Zinho, entre outros. Como te sentes ao veres o teu trabalho reconhecido e respeitado?

Baraldi: Fico feliz e posso dizer que é uma recompensa muito boa pelos meus 24 anos de carreira, a trabalhar única e exclusivamente com quadradinhos e cartoons, e não é uma profissão fácil no Brasil. Muitos conhecidos meus desistiram a meio do caminho, eu não, sempre acreditei no meu talento e em Deus, a encarar todos os problemas que me aparecessem. Hoje tenho muitos prémios na minha área e também recebo muitas cartas, e-mails e cumprimentos das pessoas pelo meu trabalho. Todas essas manifestações de carinho para mim são como prémios também.

M M: Os teus personagens estão nas mais importantes revistas e sites de rock e metal do Brasil, isso mostra uma união e não uma concorrência. Como te sente?

Baraldi: Eu nunca acreditei nessa conversa de concorrência. Se existem sete revistas de rock no mercado
brasileiro é porque há público para todos, senão já tinham falido há muito tempo! O Brasil tem o maior público roqueiro do mundo. O maior público dos Kiss, por exemplo, foi aqui no Maracanã, para 250 mil pessoas. Eles nunca viram tanta gente junta (risos)! Os Motorhead, Hammerfall, Primal Fear, Iron Maiden, não saem do Brasil, estão cá sempre. Os saudosos Ramones tocaram aqui umas quinhentas vezes (risos). Lembro-me que os A-Há não saíam do Brasil também, eles tinham um público imenso. O Blaze Bailey, Paul Diano, Warren Cucurullo (Duran Duran), Wayne Russel (The Mission) são ou foram casados com brasileiras que conheceram quando tocaram por cá. Modéstia à parte a imprensa roqueira brasileira é uma das melhores do mundo. A Rock Brigade tem 25 anos, a Dynamite 15, a Roadie Crew 13, a Metalhead tem 15 anos também. São revistas consolidadas, respeitadas no mundo inteiro.
Eu sinto-me muito feliz porque estou nessa imprensa roqueira há mais de 11 anos, ou seja, ajudei a construí-la. Dei uma cara nova para a imprensa, mais alegre, divertida. Lembro-me que quando eu comecei o perfil do headbanger brasileiro, era muito sisudo, conservador. O Roko-Loko e os meus quadradinhos mudaram essa cara, mostraram que o roqueiro brasileiro é alegre, brincalhão, que quer viver e se divertir! Ninguém quer violência e destruição. Isso fica para o Bush, Sharon Osbourne e outros psicopatas poderosos!

M M: Em Outubro de 2006, ganhas-te um disco de ouro por mais de 54 mil cópias vendidas do primeiro jogo rock'n'roll do Brasil," Roko Loko Castelo de RatoZinger". Fala um pouco sobre esse facto histórico.

Baraldi: Eu lancei o meu jogo do Roko-Loko em 2005, prensei e vendi 4 mil cópias dele. Depois encartei-o na revista "MP3Magazine", uma revista de música digital, acompanhado de uma matéria de oito páginas sobre o jogo, um poster e o CD "Capitulo II" completo da banda Exxótica, que fez a banda sonora do jogo. Era um CD-Rom com o jogo e muitas coisas dos Exxótica: músicas, fotos, clipes.
A revista vendeu 50 mil exemplares, o que me conferiu um disco de ouro pelas 54 mil cópias. Depois eu encartei o jogo em várias revistas de vídeo-jogos e a tiragem actual dele já ultrapassou as 300 mil cópias. Em breve vou receber um duplo platina por causa disso! Foi uma estratégia de marketing para aumentar a tiragem do jogo sem custos para mim e estar ao alcançar de mais gente.

M M: Baraldi, quais os teus projectos actuais?
Baraldi: Agora no segundo semestre quero lançar o livro "Humortífero", colectânea da histórias da revista Metalhead e o dual-disc que falei.Com o novo jogo de um lado e o DVD, making -of do outro. Também fiz uma versão do jogo para telemóveis, estamos a colocá-lo nas operadoras para o público
descarregar. Enfim, este ano está a ser muito agitado e vai ser esta actividade doida até o final do ano.

M M: Mensagem final para os fãs e admiradores da rádio e site Metal Morfose de Portugal?

Baraldi: Eu nunca fui a Portugal, mas tenho a certeza que é um país lindíssimo, com uma cultura bonita. Eu fico feliz pelo Brasil ter sido colonizado pelos portugueses, que é um povo de índole pacífica, não é um povo imperialista, que atira bombas em crianças ou destrói um país inteiro para lhes roubar o petróleo e a dignidade. Gosto muito da língua portuguesa e considero-a muito bonita. Aliás gosto das línguas e culturas latinas em geral! Acho que nas próximas décadas haverá uma valorização da cultura latina, acredito que no século XXI, a tal Era de Aquário, (da ciência, das artes, da razão, do conhecimento e do bom-senso). Não existe mais no mundo lugar para guerras, bombas e outras barbáries. Acredito num mundo fraterno onde a raça humana seja um povo só, com tecnologia e progresso para todos. Talvez este aquecimento global terrível que está a se aproximar seja um grande aviso da Natureza, para que os povos terminem de competir uns com os outros e trabalhem juntos para garantirem o futuro de toda a humanidade.
Acredito que os músicos têm um papel importante nessa consciencialização das pessoas, afinal a música, sobretudo o Rock sempre foi um instrumento de transformação da sociedade. O rock derrubou muitos tabus como o sexo, por exemplo, e deixou as pessoas mais livres para viverem e pensarem. E agora chegou a hora de pensar no futuro, não de cada povo ou país, mas no de toda a humanidade!
Desejo um futuro maravilhoso para todos nós, independente de que lado do oceano estejamos!
Sucesso, saúde e claro muito rock'n'roll a todos os irmãos portugueses. Deus vos abençoe!
Visitem o meu site http://www.marciobaraldi.com.br

Por: Aldo Beehlerr

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