REPORTAGEM - FESTIVAL ALTERNAVIGO
Este festival revelou-se uma óptima alternativa para aqueles que, como eu, moram mais a Norte e não querem ou podem gastar muito dinheiro, Vigo é uma cidade simpática, a gasolina é mais barata e aproveita-se para encher o depósito, o cartaz era apelativo e o preço dos bilhetes era muito barato em comparação com muitos eventos que se fazem por cá (20€ um dia, 30€ os dois).
A nível de organização a minha opinião é positiva, claro que houve alguns atrasos principalmente em trocas de baterias e sobe pano e baixa pano, mas no geral o festival decorreu num bom ambiente de confraternização entre portugueses e espanhóis, o camping estava limpo e bem estruturado com vários wcs espalhados pelo perímetro e contentores com chuveiros de água quente, haviam seguranças em vários pontos que nos davam informações e vigiavam o tráfego de festivaleiros, muitos lugares para estacionamento, senhoras da limpeza dentro do pavilhão a limpar os rastos deixados pela multidão, barraquinhas com roupas, acessórios, cds, etc.
Pontos negativos; os já referidos atrasos, o preço dos “comes e bebes”, uma simples cerveja custava 3€ (espanhola! ainda por cima!), ou se levava “contrabando” ou se vinha cá fora, o facto de não haver uma maior segurança na zona dos concertos (não é que houvesse problemas de maior mas se isso acontecesse…) e não haver Multibanco perto.
DIA 8
O dia 8 foi quase por completo dedicado ao punk-rock espanhol que contrastou com a agressividade de Ratos de Porão à mistura, essa sim a banda pelos portugueses aguardada. Quase no início dos concertos eles passeavam pelo pavilhão a ver o ambiente e foram extremamente simpáticos quando foram por nós abordados para tirar fotos dizendo que gostavam muito de Portugal.
OXTIAX KE TE PARIU / DAKIDARRÍA / FE DE RATAS
No início da primeira banda (OXTIAX KE TE PARIU) não havia muito público mas a banda alegremente deu início ao festival contando já com o “moche” da escassa assistência que possuíam. A estes seguiram-se os Dakidarría e os Fe de Ratas, os quais não assistimos aproveitando para sair e comer alguma coisa do nosso farnel (mais barato!) e prepararmo-nos para ver Ratos.
RATOS DO PORÃO
Ratos de Porão foram uma verdadeira máquina de destruição, no início João Gordo entra em palco a imitar um zombie ou um Frankenstein e repentinamente eles começam a “rasgar” fazendo com que a assistência, a esta altura em maior número, forme “circle pits” que não cessam até ao fim do espectáculo. Foi o caos instalado na linha da frente, os principais intervenientes eram portugueses, suados em tronco nu, entoando as letras de hinos anarquistas dos brasileiros como “Crucificados pelo Sistema” e “Amazónia Nunca Mais”, sendo em muitas alturas filmados por João Gordo através do seu telemóvel.
PORRETAS / REINCIDENTES / BARRICADA
Seguiram-se os Porretas, em tudo diferentes, voltava-se ao punk-rock espanhol, recebido com alegria pelo público da mesma nacionalidade. Deu para andar um bocado na brincadeira, a dançar, aos saltos acompanhados por uma cerveja que não lembra ao menino Jesus, já em pleno “festival mode”. A noite ainda contou com a participação dos Reincidentes e dos Barricada, mas nós já tínhamos decidido regressar à base e prepararmo-nos para o dia seguinte.
DIA 9
O dia 9 antevia-se mais negro, mais preenchido de multidão… Muito mais público que no dia anterior, principalmente português. Foi óptimo encontrar velhos amigos, caras conhecidas, parecia que estávamos mesmo em Portugal.
SHROUD OF TEARS
Os concertos iniciaram-se com a banda espanhola Shroud of Tears, desconhecida pela maior parte do público português, apresentando o seu metal gótico com bastante energia em cima do palco, energia essa proveniente de todos os elementos da banda, mas principalmente do seu vocalista, Marcos, que interpretou os temas com vozes ora melódicas, ora mais guturais de uma forma bastante efusiva e interagindo com o público e com os restantes elementos.
FALLEN SENTINEL
Seguiram-se os Fallen Sentinel, banda da casa composta por seis elementos entre os quais duas meninas nas vozes e nas teclas (uma das bandas que iria estar presente no Lagoa Burning Live). O concerto não foi surpreendente mas foi agradável, é-nos apresentada a dualidade vozes femininas-vozes masculinas acompanhadas por teclados que ajudam na criação de uma atmosfera mais goth/doom.
3 INCHES OF BLOOD
CYNIC
Enquanto isso no átrio do pavilhão, já os Cynic montavam a sua “banquinha” observados por fãs incrédulos desejosos de estabelecer contacto e comprar T-shirts (ou camisetas em espanhol ;). Mal o primeiro fã teve coragem para pedir uma foto, seguiram-se os outros todos, tipo avalanche. Devo referir que estes fãs eram todos portugueses e estavam ali principalmente por Cynic (os espanhóis é mais punk-rock, power metal e bolos). É de louvar a simplicidade e a simpatia dos elementos de Cynic. Antes e depois do seu concerto estiveram a conviver com os fãs, tiraram imensas fotos, conversaram com todos que a eles se dirigiam, muito profissionais, em palco e fora dele.
Eles viram tantos fãs portugueses, que no seu concerto Paul perguntou logo se havia alguém de Portugal antes sequer de se referir a Espanha, mas Paul teve oportunidade de mostrar o seu espanhol quando se dirigia ao público. Foi um concerto bastante calmo, contrastando com a intensidade das outras bandas internacionais, o que não quer dizer que não primou pela qualidade e tecnicismo deste colectivo, o som é que podia ter estado um pouco melhor. Sempre serenos tocaram temas do seu trabalho “Focus”, como “Veil of Maya” e ainda nos apresentaram três temas novos; "Integral Birth", "Evolutionary Sleeper" e "Adam's Murmur".
EXODUS
Depois da serenidade de Cynic foi a vez do Thrash destrutivo de Exodus, banda muito esperada tanto por galegos como portugueses. Portugal estava mesmo em alta, depois de Cynic é a vez dos Exodus: "what is this, Portugal?", grita Rob Dukes a puxar pelo público, lembrando um pirata com os seus calções às riscas vermelhos e brancos e look agressivo. Foi o caos instalado com “circle pits” de meter medo até ao mais corajoso dos metalheads, um concerto pleno de garra e agressividade, onde os Exodus deram provas da sua qualidade mesmo após mais de 20 anos de carreira.
Após a sua prestação, os Exodus distribuíram simpatia, assistindo aos concertos das bandas que se seguiram e conversando com o público através da grade, dando autógrafos, até futebol americano jogaram com algumas pessoas do público.
PRIMAL FEAR
É dada a vez aos Primal Fear, num estilo diferente mais épico / power metal, bem mais ao gosto dos nuestros hermanos que a esta altura já esperavam por Gamma Ray (ou Gama Rai como eles diziam). Tiveram uma boa prestação em palco com bastante interacção com o público incitando ao canto, e este não se fez rogado e acompanhou Ralph Scheepers em muitos temas. Ralph esteve muito bem no que diz respeito a voz, sem falhas. Tocaram temas como “Sign of Fear”, "Fighting the Darkness" e “Nuclear Fire”, finalizando com uma grande mensagem “Metal is Forever”, este último tema acompanhado pelo público em uníssono.
GAMMA RAY
Finalmente para os espanhóis era a vez dos Gamma Ray, recebidos por um público em delírio que acompanhou os temas tocados pela banda com devoção. Iniciaram o seu espectáculo com uma intro seguida de “Into the Storm”. Kai Hansen esteve bem, interagindo bastante com o público que vibrava com o power metal deste colectivo. Tocaram também temas como “Heaven Can Wait”, “ Send me a Sign” e “I Want Out” e “Ride the Sky” da anterior banda de Hansen, Helloween.
OVERKILL
Chegara a vez dos muito esperados Overkill, que preencheram as expectativas de uma plateia em verdadeiro delírio oferecendo um espectáculo incrível, sem falhas, considerado por muitos o melhor concerto do Alternavigo.Thrash old school, tocado e cantado com grande profissionalismo e emoção em temas como “Coma” (tema de abertura), “Elimination”, “Old School”, “Necroshine”, “Wrecking Crew”, “Hello From the Gutter”. O líder desta “wrecking crew”, Bobby Blitz, demonstrou ser um verdadeiro animal de palco cheio de garra e energia, lembrando quase um Iggy Pop em alguns maneirismos. Um concerto grandioso, com bastante interacção da banda com o público que não se fez rogado e acompanhou cada momento com efusão, headbanging até que o pescoço doa, cantando e celebrando cada tema.
CRADLE OF FILTH
Chegados a Cradle of Filth, é de se mencionar que a assistência vista em Overkill tinha ficado mais reduzida. Esta banda já não apela tanto ao gosto de muitos pelas mais variadíssimas razões e havia já muita gente a tratar de regressar a casa, principalmente portugueses, Cradle apelou bem mais aos espanhóis. Do meu ponto de vista pessoal também não valeu muito a pena, Cradle soa ao mesmo em cada tema, nada de surpreendente, qualidade dúbia. O espectáculo pareceu também não agradar a Cradle, pois finda uma hora acabaram o seu set e regressaram ao backstage sem encore. Do seu concerto fizeram parte temas como “Dirge Inferno!”, “Gilded Cunt”, “Dusk and Her Embrace”, “Cruelty Brought Thee Orchids”, “Nymphetamine”, “The Principle of Evil Made Flesh”, “Her Ghost in the Fog”, “Under Huntress Moon” e “From the Cradle to Enslave”.
E foi o fim do Alternavigo, um festival com muitos pontos positivos, o qual esperemos que no próximo ano volte a acontecer com o mesmo peso, qualidade e simpatia.
Fotos e texto: Helena Granjo
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